domingo, 21 de fevereiro de 2010

Capitulo 1: Cheiro da Lua

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Mais tempo do que se pode imaginar, e era ainda o inicio da jornada, era para aquela direção que o perfume da lua seguia um rastro ancestral que todos se esqueceram, e ele ficou fraco. O lobo se vê parado diante a uma imensa e suja cidade, em uma colina seca e árida como todo o mundo, era lamentável mas este mundo não estava mais morrendo, ele já esta morto.
A mãe de todos então prometeu um novo mundo a seus filhos amados, era o que seu avô dizia, e ele jamais mente, ele carregava consigo a sabedoria de toda uma raça. Já passara por algumas cidades antes, e elas se mostravam sempre odiosas, sempre. Sua raça vem se perdendo a cada instante, isso estava matando-o, ele era livre, tinha a sua liberdade de buscar o Paraíso, mas os outros simplesmente não querem correr risco, isso também era asqueroso, assim Moytoy, como seu avô, o único que não desistiu, por isso ele ganhou este nome, vindo dos antigos, este era o nome do antigo espírito Lobo que lutou pela Grande mãe.
A Cidade esta movimentada cheia de luzes de mentira.
“Estes macacos sempre quiseram ofuscar as estrelas.” Moytoy passou a temer que estes macacos um dia conseguissem brilhar mais que a lua. Ele caminha pela cidade adentro, cansado e com muita fome, a mais de três dias sem comer nada, mas ainda sim ele continua o cheiro da Lua diminui ate quase não passar de uma sensação, uma sensação de que Moytoy não deve parar, não deve desanimar, mas esta terra é ainda pior que as outras. As pessoas reparam no grande cão branco que caminha desanimado pelas ruas molhadas e sujas, elas se admiram com a beleza, mas seu tamanho evita que qualquer um se aproxime, ele sente o cheiro da carne assando em uma esquina qualquer, mas seu estomago rejeita a idéia de se saciar com a comida humana, ela era impura, alem de horrível.
Cansado ele se encontra frente a um parque, isso o alegra, ali ao menos ele poderia descansar em Paz, e Moytoy dorme, dorme profundamente para sonhar com a Lua, e com o Paraíso.
Porem ao norte desta mesma cidade é onde desperta um mal ancestral.
Um bando de homens vestidos de roupas largas e de couro sintético, rodeiam a arvore onde o lobo branco dormia... Diziam admirados.
_Ja viu um cachorro deste Tamanho?
_Não, olha o tamanho da pata disso.
_Será que está morto?
_Não, olhe bem, ele respira.
A discurção é interrompida pelo líder do bando de saqueadores que rodeiam o lobo, estes saqueadores vivem de roubar equipamentos militares e vende-los para traficantes, o líder, um homem alto com traços indígenas, mas diferentes dos índios do norte, ele se parecia muito com os nativos vermelhos do Sul, ele se aproxima e sorri sarcasticamente da ignorância dos seus comandados.
_Isso não é um Cão seus idiotas. _ Todos instantaneamente se afastaram.
_Prendam isso e tragam para fora desse buraco de arvore.
Dois se adiantaram a satisfazer a vontade de seu líder, eles se aproximam, e os olhos de ouro que fervem como brasas, e não puderam ver, um é lançado para longe por poderosas patas, enquanto o outro tem sua garganta dilacerada pelo poderoso lobo, seu pelo, ainda se mantem impecável e branco, ele era um caçador. Outro capanga de cicatriz, esta parado segurando uma arma, esta tremendo e em Pânico, seus olhos se congelaram nos olhos do Lobo, ele era incapaz de mexer, seu instinto lhe diz que não pode atirar e acertar o grande lobo das geleiras do Norte, era impossível, seu corpo esta paralisado de medo.
O rosnado de Moytoy é a única coisa que pode ser ouvida ali alem do movimento do transito fora do parque e a respiração ofegante dos homens que estão apavorados com o grande lobo branco perto deles, ele esta olhando fixo nos olhos do infeliz que segura a arma tremendo em medo, era isso que alimenta o instinto predador de um lobo, medo pavor, isso dava ao lobo um poder quase místico de manipular as ações das presas, ate que ele é atingido no focinho fazendo escorrer um fino fio de sangue, então ele olha para o agressor, seus olhos se arregalam quando olha para cicatriz, ele era um. Assim que observa o pele vermelha, com um olhar raivoso para ele, Moytoy pula saindo de perto dos humanos, e volta a caminhar pelos becos mais desertos da cidade.


Cochise , na maior parte das vezes é chamado de cicatriz, por sua grande cicatriz que trás a altura da jugular, por pouco este ferimento não o mata, mas esta mesma faca matou sua mãe em terras selvagens, ele era apenas um filhote, mas se lembra que a raiva que sentiu foi de adulto.
Ele ainda pensava no que havia visto na sua frente, era um dos seus, um lobo, um selvagem, e cicatriz sabia que este viera das montanhas, não havia cheiro de gente nele. Ele estava parado olhando a garganta dilacerada de um dos seus, e isso o encheu de ódio, não por ter morrido ali um companheiro, pois nenhum humano desses horrendos que vivem e terras de aço jamais seria um amigo para um lobo. Ele estava com ódio, pois aquela aparição rápida do lobo branco o encheu de inveja, apenas isso, aquele lobo fez o que Cochise não conseguiu ser livre.
_Enterre ele e se escondam na caverna, não devo voltar hoje. _Sem dizer mais nada, sequer olhar para trás ele sai correndo, como um raio, com seu machadinho em mãos.
Seu olfato de lobo persegue o cheiro selvagem de Moytoy, como que se caçasse uma presa, o canino branco iria pagar por mudar a vida segura de Cochise. Com as quatro patas peludas o lobo esguio e cheio de pelos agora cruza as ruas da cidade, sem se preocupar com as pessoas, ele apenas persegue aquele que lhe mostrou estar livre, era uma afronta, não seria perdoado.
Quase do outro lado daquela região da grande cidade, Cochise encontra Moytoy devorando um desavisado gato domestico, um gato gordo que fatalmente cruzou o caminho de um ser improvável.
_por que me persegue?_ sem se desviar do gato o lobo branco pergunta ao cinzento típico das áreas mais ao sul do País.
_Este é meu território, e você o caça nele.
_Não é seu território, é a casa dos macacos, e eles não se importam se eu caçar aqui.
_Eu vivo aqui a muito tempo, você matou um dos meus.
_Eu so me defendi.
_Aqui existem regras.
_Não me importa suas regras tolas.
Avançando furioso o cinzento ataca o branco, pulando sobre este que revida com igual força, era uma terrível luta entre lobos, ambos aparentemente tem igual habilidade, mesmo Cochise que viveu toda sua vida na cidade aprendera que a vida é selvagem e que precisava ser forte para suportar, enquanto Moytoy é o instinto dominante nos lobos, ambos se atacam loucamente sem conseguir de fato acertar o oponente, ate que do fim do beco onde estão um tiro é dado, não acerta nenhum dos dois, mas os dois saltam sobre o gordo agressor que fica em pânico, no chão, sob as patas de dois animais imensos, mas estes olhando as lagrimas do desafortunado desistem de agredi-lo e partem disparados pelas ruas, em outro lugar, próximo daquele mesmo parque eles param, nenhum tem vontade de recomeçar a briga, apenas se olham, sem sentimentos definidos, então Cochise diz:
_Era o dono do Gato que mataste.
_Eu sei, deve ter me visto pular pela janela com seu felino na boca.
_Entrou mesmo na casa dele e pegou o gato?_Cochise sorria sarcástico do grande caçador selvagem.
_ E ele me agradeceu, nunca seria livre, morrer é natural, eventualmente acontece, viver uma vida sem sentido e privada de liberdade, isso não é natural.
O silencio mostra que Cochise entendeu exatamente as palavras de Moytoy, ele estava certo e Cochise é igualmente um prisioneiro,assim como o gato, o lobo cinza e orgulhoso se percebe como quase um cão domestico, mas seu orgulho lhe impede de aceitar este fato, ele apenas se vai, deixando Moytoy para traz e voltando para seu bando de saqueadores, se volta para sua vida enclausurada no medo do mundo fora dos limites invisíveis da grande cidade, enquanto sabe que mais um dia no maximo e o lobo branco sairia da cidade.

Entre Lobos e Homens

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Este é um texto sobre lobos, mas principalmente uma historia sobre a vida, esta é a historia sobre o caminho, o caminho sagrado que todos os seres atravessam, a vida, mas esta historia é sobre Lobos, sobre o grande lobo que existe em cada um, um sentimento que as vezes é forte e as vezes quase inexistente, mas todos nós temos que seguir um caminho para o próprio Paraíso... Este é o caminho que vem se apagando, a passagem esta tomada pelo mato, e a maior parte das pessoas se esqueceram dele, um caminho de união.

Peregrino

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Mãe de Deus,
Espírito da tarde,
Filha do Sol,
Irmã da lua,
Mãe do vento,
Senhora dos Andes,
protetora da vida
em todas as suas formas.
Tu que eras a vida,
a magia de viver,
e a certeza de morrer,
és agora o mistério,
o silêncio e a majestade da cordilheira.
Acendias a madrugada de cada dia,
pressentida pelos
pássaros e pelos poetas.
Tu acolhias o Sol
cansado e sonolento
a cada entardecer
e sobre Ele estendias
mantos de vicunha,
só percebidos pelos índios da cordilheira.

Tu guiavas o índio perdido
quando seus caminhos
chegavan ao céu.

Por que te ensombreceste?
Acaso foram as caravelas?
Foi o homem branco,
que tu não criaste?
Foram seus rifles
e as matanças que fizeram
de tua criação?
Foram seus deuses ferozes
que de Atahualpa
beberam o sangue
e usurparam as riquezas?

Pachamama levanta-te:
A natureza é tua.
Restitui-a a sua antiga grandeza,
a humanidade está a tua espera,
precisa de tua bondade
e do teu equilíbrio,
e até o homem branco,
pedindo perdão de joelhos,
chorando te agradecerá.